Crônicas

Escrever minhas crônicas é como desvelar memórias e reflexões que habitam meu íntimo. Cada palavra traça o contorno de experiências, transformando o cotidiano em narrativas singulares. Na escrita, sinto-me um arquiteto de histórias, construindo pontes entre passado e presente. É uma jornada íntima, onde as palavras se entrelaçam para capturar a essência de momentos fugazes. Cada crônica é um fragmento do meu olhar, uma tentativa de eternizar o efêmero em tinta e papel.

— Quem não tem pecados? —

“Quem não tem pecados, que atire a primeira pedra!”. Já ouvi essa frase, inspirada em um texto bíblico, diversas vezes e talvez não tenha dado a importância que ela merece.
A verdade é que falar sobre nossas culpas e medos causa um enorme desconforto, até porque o pavor de sermos julgado toma uma dimensão enorme na nossa vida. Isso porque não é simples se colocar no lugar do outro e imaginar o que pode estar acontecendo. Muitas pessoas nem querem. São indiferentes ao sofrimento humano e ponto final.
Na verdade, somos todos muito egoístas, queremos compreensão, carinho, amizade, perdão e tantas outras coisas, mas, no entanto, nem sempre temos essas coisas para oferecer. Exigimos confiança, mas como é difícil confiar totalmente. Levamos anos construindo algo que pode ser chamado de confiança, no entanto, basta um sopro para levá-la embora. Como somos frágeis…
Vivemos em busca da perfeição, mas existe alguém perfeito? Até o momento não conheço uma pessoa sequer. Por que então insistimos em julgar e condenar, se somos feitos da mesma matéria, o pó?
Julgamos com tanta facilidade e proferimos palavras sem pensar. Ah! Como essas palavras doem. São mais fortes do que uma bala, pois invadem o corpo e penetram a alma, causando uma ferida enorme.
Perdemos mais tempo remoendo as lembranças ruins do que cultivando as coisas boas que vivemos ou que poderemos viver. Perdemos horas, dias e anos de felicidade por causa disso. Simplesmente porque perdoar não é uma dádiva humana.
Já pensou se Deus fosse assim? Não haveria um ser vivente na terra.
Jesus Cristo não veio ao mundo para os que se dizem “santos”, ele veio para salvar pessoas como eu, como você, que assumem os erros e pede perdão. É isso o que penso e não adianta ninguém pregar a imagem de um Deus severo, que apenas condena e destrói os pecadores. O meu Deus não é assim. Ele vê os meus erros e não me condena, Ele simplesmente me dá uma, duas, três… Infinitas chances de ser melhor. Pena que nós, seres humanos, não somos assim.

— Que mistérios envolvem os sentimentos? —

Um dos grandes segredos da vida é a origem dos sentimentos que envolvem as pessoas. Todos buscam a mesma coisa: a felicidade. Alguns levam a vida inteira procurando e morrem achando que nunca foram felizes. Simplesmente passam pela vida.
A verdade é que até hoje não se descobriu a origem e nunca se mediu a extensão do amor, do ódio, da paixão, da simpatia, da afeição, da indiferença ou outro qualquer sentimento que nutrimos em relação aos seres humanos que cruzam o nosso caminho. Tudo é envolvido por um grande mistério.
Tais sentimentos são involuntários e independem de nossa vontade, na maioria das vezes, por mais que lutemos para dominá-los e decifrá-los, é inútil tal luta. Daí que não vou buscar a origem, a razão, o motivo ou qualquer outra explicação, que justifique as loucuras que fazemos no decorrer da nossa vida. E olha que são muitas!
Só consigo definir esses momentos como belos, sensíveis, interessantes, loucos, únicos e especiais. Momentos que marcam a nossa história para sempre e que dão um significado para a nossa existência.

— Divagando sobre os sentimentos —

Não quero falar de sentimentos. Atualmente banalizaram a palavra amor. A moda agora é “ficar”.
Estou desatualizada? Talvez! Depende do ponto de vista de cada um e do valor que damos as relações. Como vivemos em uma sociedade consumista e descartável, em que os sentimentos têm pouco valor, tudo parece um faz de conta. Faz de conta que todo tipo de relação é normal, que os sorrisos são demonstrações de pura felicidade, que a sociedade pode ser mais justa, que o mundo será melhor… Ah, como seria bom, se tudo isso fosse uma realidade.
Às vezes pergunto o que é verdadeiro nisso tudo, já que verdade e mentira parecem palavras sinônimas para muita gente. Falamos em demasia e sentimos pouco ou quase nada, nos comportamos como máquinas em pleno vapor.
Criamos uma geração de pessoas solitárias e depressivas. Muitas passam a maior parte do tempo na frente de equipamentos eletrônicos, procurando quase tudo na internet. Isso mesmo! Quase tudo!
Encontramos uma diversidade de informações e muitos produtos são oferecidos “natoralmente”, relacionamentos começam e terminam, a vida das pessoas são expostas, e tudo bem, mas aquilo que a nossa alma necessita não encontramos. Como diz Charles Chaplin: “Mais do que máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido”.
Quando entendemos que o amor é uma ação, e não apenas um sentimento bom, que a vida é um bem precioso, mesmo que haja sofrimento na caminhada, passamos a agir com mais responsabilidade e comprometimento. Enfim, por que não refletir sobre tudo isso, se são apenas verdades?

— Qual o sentido da existência? —

Por que falamos sobre a vida, mas evitamos falar sobre a morte? A morte é o que há de mais verdadeiro, presente e claro no caminho da existência humana. Ela faz parte da nossa vida gostemos ou não. O que não sabemos é quando e de que forma ela nos apanhará. Daí o fator surpresa, pois independente do meio ou da idade, um dia nos encontraremos com ela.
Engraçado é que muitas pessoas passam pela vida com a sensação de que nunca vão morrer. Desejam incessantemente construir valores materiais e esquecem que “caixão não tem gaveta”. Pobres mortais! Como dizem por aí: “A nossa vida é uma velinha acessa que se apaga a qualquer momento” ou “Se não morrer jovem, certamente velho não passará”.
Sem sombra de dúvidas, nunca aceitamos a ideia da perda, principalmente de algo tão valioso. Isso nos corrói a alma e nem gostamos de pensar. Tal relutância só confirma a assertiva de que o homem não foi criado para morrer, mas sim, com um propósito muito mais nobre e grandioso.
Entretanto, cabe-nos a descoberta e a busca de uma forma mais atuante, digna, original e inteligente de fazer dos breves dias que nos são oferecidos nesta fase de nossa existência, com a confiança e certeza de que a vida não se finda aqui, e muito menos na escuridão do sepulcro, mas ela se prolonga eternamente em um outro lugar, onde a escolha é só nossa. Feliz vida!

Josi Livro
— Quem são os verdadeiros animais irracionais? —
 
Quanto mais eu vivo, mais eu gosto dos animais. Sem dúvida, eles são melhores.
Dificilmente um animal abandona a sua cria ou a maltrata. Eles não são seletivos, muito menos egoístas, apenas querem um pouco da nossa atenção em troca de companhia, lealdade e amor. 
Lembro, com saudade, de todos os meus cães e gatos, que já morreram de velhice ou foram assassinados por algum infeliz. Cada um marcou a minha vida, desde a infância até hoje, com atitudes simples, mas preciosas.  Não trocaria nenhum deles por determinados seres humanos. 
Engana-se quem pensa que os animais não têm sentimentos. Eles sentem quando estamos alegres ou tristes e sofrem com a indiferença e o descaso. Oferecem muito e exigem pouco.
Poderia citar inúmeras situações do cotidiano em que o ser humano age insensatamente, sem analisar as consequências das próprias atitudes. Infelizmente praticam coisas absurdas, sem uma explicação lógica, e ainda são chamados de seres racionais. É muito contraditório, não acha? Quando fazemos uma comparação, observamos que o ser humano é, dos mamíferos, o que mais mata a sua própria espécie. 
Lembro com tristeza de um assalto que houve em um ônibus, do transporte público de Salvador, em que o bandido, muito nervoso, acabou disparando a arma em um condutor, em meio a uma discussão. Este acabou morrendo, e tudo por causa de um vale transporte.
Seria ótimo, se nós aprendêssemos a viver unidos em sociedade como os animais. Com certeza não haveria tanta violência e injustiças no mundo.

— Os corruptos da nossa sociedade. —

Atualmente, fala-se muito em corrupção, mas será que corrupto é apenas o político que desvia dinheiro público ou todos nós temos um pouco de corrupto?
Pensar em corrupção vai muito mais além daquilo que ouvimos constantemente sobre nossos políticos, nos diversos tipos de jornais. “Corrupção é o ato ou efeito de se corromper, oferecer algo para obter vantagem em negociata onde se favorece uma pessoa e se prejudica outra. É tirar vantagem do poder atribuído. “Corrupção” vem do latim corruptus, que significa “quebrado em pedaços”. O verbo “corromper” significa “tornar-se podre””. Sendo assim, a corrupção está perto de nós e não apenas no Congresso Nacional.
Somos corruptos em diversas situações, por exemplo, quando recebemos um troco a mais e ficamos calados, quando passamos por cima do direito do outros para chegarmos onde desejamos, quando observamos atitudes de exploração e simplesmente ficamos de braços cruzados, quando nos calamos ao observar que o nosso filho levou uma borracha do coleguinha para casa por achar melhor e mais bonita, quando fazemos cola no período de provas, entre tantas outras coisas.
A corrupção sempre existiu e sempre existirá. Desde o processo de colonização do nosso país ela está presente, basta observar como tudo começou. Os piores bandidos trazidos de Portugal colonizaram as terras brasileiras, roubando tudo o que foi possível. Encontraram aqui um paraíso e não uma prisão. A própria Igreja impôs uma religião dominadora e corrupta durante muitos séculos. Esta teve o poder nas mãos e fez o que quis, matou inocentes em nome de Deus e até vendeu pedacinhos do céu em troca do perdão. Os indígenas e africanos foram as maiores vítimas desses absurdos, pois foram dominados, explorados e massacrados por pessoas que só pensavam na satisfação pessoal. Não há nada que apague esse período infeliz da nossa história.
É muito fácil acusar o partido A ou B de corrupção, exigir leis mais rigorosas para punir os corruptos e fechar os olhos para coisas simples do dia a dia que são exemplos de exploração. De falso moralismo a nossa sociedade está impregnada. Precisamos de atitude e não de belos discursos. Precisamos de boa educação, pois ela é a solução da grande maioria dos problemas sociais. Precisamos construir uma sociedade diferente. De gente que promete, gente que faz. Gente que se preocupa com o outro e propaga a justiça e a paz.

— Quais as máscaras da nossa sociedade? —
 
A palavra “máscara” nunca foi tão utilizada como nos dias atuais. Tanto no sentido denotativo “Peça com que se cobre total ou parcialmente o rosto para disfarce.” quanto no sentido conotativo “Aparência enganosa.”. 
No sentido real vem à mente lembranças festivas como o carnaval, sarais e bailes à fantasia, mas também a necessidade de usar esse item como forma de nos protegermos de bactérias e vírus, principalmente agora, em meio a uma pandemia. Já o sentido figurado, nos faz refletir sobre os desatinos da nossa sociedade e da falsa imagem que muitas pessoas carregam. 
Quem realmente se importa com o que você pensa ou sente? Vale a pena refletir! Até porque é possível ter milhões de amigos nas redes sociais e passar uma imagem de pessoa mais feliz do mundo, quando, na verdade, essa é apenas uma máscara para esconder as mazelas da vida e fugir da solidão. Também tem aqueles que pregam uma falsa liberdade, dizendo: “Não devo satisfação a ninguém!”, “Quem paga as contas da minha casa sou eu!”, no entanto, expõem na internet o que fazem desde a hora que acordam até o momento que vão dormir. Que contradição, não é mesmo!?
Vivemos em uma sociedade consumista e de mil aparências, onde o ter vale mais que o ser; a roupa de marca, mesmo feia, vale mais que a roupa simples e elegante; o bonito é aquele que se enquadra em um padrão de beleza; a juventude parece ser eterna nas redes sociais, preenchem-se fendas e falhas e manchas se removem; as relações sem compromisso é a moda do momento; não há responsabilidade afetiva e o amor foi banalizado e, por fim, a mentira vestiu a roupa da verdade e anda por aí fazendo um estrago. 
De falso moralismo, a nossa sociedade está cheia! Mas talvez a gente possa escapar dessas loucuras sendo naturais, cumprindo deveres reais, que realmente valham a pena, curtindo a vida sem se expor, refletindo e tendo opiniões próprias, combatendo o desejo por coisas que nem queremos, valorizando quem nos ama de verdade e a nossa própria presença, sem temer a solidão, afinal nascemos sozinhos e morreremos sozinhos.
Descobrir a nossa função no mundo é um excelente aprendizado e leva tempo. Não é preciso fazer sacrifícios tolos nem cumprir tantas obrigações banais e inúteis, como determinam os mitos e mentiras de uma sociedade insegura, desorientada e em crise. No fundo, é preciso refletir sobre os erros e acertos, amadurecer de verdade e buscar sempre o caminho da evolução.